Louco (Hora do delírio)
Junqueira Freire
Não,
não é louco. O espírito somente
É
que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa
melhor que vós, pensa mais livre,
Aproxima-se
mais à essência etérea.
Achou
pequeno o cérebro que o tinha:
Suas
idéias não cabiam nele;
Seu
corpo é que lutou contra su'alma,
E
nessa luta foi vencido aquele.
Foi
uma repulsão de dois contrários;
Foi
um duelo, na verdade, insano:
Foi
um choque de agentes poderosos;
Foi
o divino a combater co'o humano.
Agora
está mais livre. Algum atilho
Soltou-se-lhe
do nó da inteligência;
Quebrou-se
o anel dessa prisão de carne,
Entrou
agora em sua própria essência.
Agora
é mais espírito que corpo:
Agora
é mais um ente lá de cima;
É
mais, é mais que um homem vão de barro:
É um
anjo de Deus, que Deus anima.
Agora,
sim — o espírito mais livre
Pode
subir às regiões supernas:
Pode,
ao descer, anunciar aos homens
As
palavras de Deus, também eternas.
E
vós, almas terrenas, que a matéria
Ou
sufocou ou reduziu a pouco,
Não
lhe entendeis, por isso, as frases santas.
E
zombando o chamais, portanto: — um louco!
Não,
não é louco. O espírito somente
É
que quebrou-lhe um elo da matéria.
Pensa
melhor que vós, pensa mais livre.
Aproxima-se
mais à essência etérea.