Crepúsculo Sertanejo
Castro Alves
A
TARDE morria! Nas águas barrentas
As
sombras das margens deitavam-se longas;
Na
esguia atalaia das árvores secas
Ouvia-se
um triste chorar de arapongas.
A
tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das
pedras, do líquen, das heras, dos cardos,
As
trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam,
quais negros, cruéis leopardos.
A
tarde morria! Mas funda nas águas
Lavava-se
a galha do escuro ingazeiro...
Ao
fresco arrepio dos ventos cortantes
Em
músico estalo rangia o coqueiro.
Sussurro
profundo! Marulho gigante!
Talvez
um — silêncio!... Talvez uma — orquestra...
Da
folha, do cálix, das asas, do inseto...
Do
átomo — à estrela... do verme — à floresta!...
As
garças metiam o bico vermelho
Por
baixo das asas, — da brisa ao açoite—;
E a
terra na vaga de azul do infinito
Cobria
a cabeça co'as penas da noite!
Somente
por vezes, dos jungles das bordas
Dos
golfos enormes, daquela paragem,
Erguia
a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto
de limos — um touro selvagem.
Então
as marrecas, em torno boiando,
O
vôo encurvavam medrosas, à toa...
E o
tímido bando pedindo outras praias
Passava gritando por sobre a canoa!...
Passava gritando por sobre a canoa!...
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