Pequeno Diário da Palavra
Iacyr Anderson Freitas
Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.
Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.
Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.
O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.
Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas do terreiro.
Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.
Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.
Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.
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