quarta-feira, 7 de março de 2012

Aberração - Augusto dos Anjos

Aberração

Augusto dos Anjos


Na velhice automática e na infância, 
(Hoje, ontem, amanhã e em qualquer era) 
Minha hibridez é a súmula sincera 
Das defectividades da Substância. 

Criando na alma a estesia abstrusa da ânsia, 
Como Belerofonte com a Quimera 
Mato o ideal; cresto o sonho; achato a esfera 
E acho odor de cadáver na fragrância! 

Chamo-me Aberração. Minha alma é um misto 
De anomalias lúgubres. Existo 
Como o cancro, a exigir que os sãos enfermem... 

Teço a infâmia; urdo o crime; engendro o iodo 
E nas mudanças do Universo todo 
Deixo inscrita a memória do meu gérmen!

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