terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Desapego - Cecília Meireles

 Desapego

Cecília Meireles




A vida vai depressa e devagar.
Mas a todo momento
penso que posso acabar.

Porque o bem da vida seria ter
mesmo no sofrimento
gosto de prazer.

Já nem tenho vontade de falar
senão com árvores, vento,
estrelas, e águas do mar.

E isso pela certeza de saber
que nem ouvem meu lamento
nem me podem responder.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A mulher que passa - Vinícius de Morais

A mulher que passa

Vinícius de Morais


Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Meios de Transporte - João Cabral de Melo Neto

Meios de Transporte

João Cabral de Melo Neto

O câncer é aquele ônibus
que ninguém quer mas com que conta;
não se corre atrás dele,
mas quando ele passa se toma;

que ninguém quer mas sabe;
e que um dia ao sair-se do sono,
lá está, semi-surpresa,
quase pontual, no seu ponto.

                           
Sem pontos de parada,
solto nas ruas como um táxi,
sem o esperar, querer,
sem ter por que, se toma o enfarte:

táxi que, de repente,
ao lado de quem não se pensava,
pára, no meio-fio,
toma, quem não o vira ou chamara.


sábado, 28 de janeiro de 2012

Amor, então - Paulo Leminski


Amor, então

Paulo Leminski

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O trapiche - Lêdo Ivo

O Trapiche

Lêdo Ivo

Queres que guarde para ti o orvalho.

Mas como posso guardar o que se dissolve
ao sol, como o vento, o amor e a morte?
Como guardar os sonhos que sonhamos
enquanto caminhamos acordados
no escuro e sem ninguém ao nosso lado?
E os sussurros de lábios encantados
no outro lado do muro? E a relva que se alastra
na pista do aeródromo? E a mancha aparecida
na casca da manga madura?
Como guardar a brisa sibilante
no convés do navio? E o vôo do pássaro?
E a barca abandonada que atravessa o rio
e pára sob a ponte?
Como e por que guardar um arreio enferrujado
e a cinza de coivara
e a chuva que chovia e o vento que ventava?
A nada guardaremos, nós que somos
o depósito de tudo, a arca e o trapiche.
O orvalho, que é eterno, se evapora
chegada a sua hora. E nossos sonhos
nos guardam fielmente nos seus túmulos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A fome e o amor - Augusto dos Anjos


A fome e o amor
                                          A um monstro
Augusto dos Anjos


Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pêndulo - E. M. de Melo e Castro

Pêndulo

                                                                        E. M. de Melo e Castro



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Madona da Tristeza - Cruz e Sousa

Madona da Tristeza

Cruz e Sousa

Quando te escuto e te olho reverente
e sinto a tua graça triste e bela
de ave medrosa, tímida, singela,
fico a cismar enternecidamente.

Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
toda a delicadeza ideal revela
e de sonhos e lágrimas estrela
o meu ser comovido e penitente.

Com que mágoa te adoro e te contemplo,
ó da Piedade soberano exemplo,
Flor divina e secreta da Beleza!

Os meus soluços enchem os espaços,
quando te aperto nos estreitos braços,
solitária madona da Tristeza!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Poema - Carlos Pena Filho

Poema
Carlos Pena Filho

Senhora de muito espanto,
vestindo coisas longínquas
e alguns farrapos de sono,

eu vim para te dizer
que inutilmente contemplo
na planície de teus olhos
o incêndio do meu orgulho.

Senhora de muito espanto,
sentada além do crepúsculo
e perfeitamente alheia
a realejos e manhãs.

Eu vim para te mostrar
que se inaugurou um abismo
vertical e indefinido
que vai do meu lábio arguto
ao chumbo do teu vestido.

Senhora de muito espanto
e alguns farrapos de sono,
onde o céu é coisa gasta
que ao meu gesto se confunde.

Um dia perdi teu corpo
nas cores do mapa-múndi.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ladainha - Cassiano Ricardo

Ladainha

Cassiano Ricardo

Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-
                        corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O Filho do Século - Murilo Mendes

O Filho do Século
Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Herói - Francisco Carvalho

Herói

Francisco Carvalho

Herói não é o que vai irrigar as lavouras
da morte nos campos de batalha.
Não é o que volta das trincheiras minadas
de explosivos com medalhas no peito
mutilações no corpo e na alma.

Herói não semeia tulipas de sangue
ramalhetes de napalm e rosas de átomo.
— Não é o aventureiro que fez xixi na lua.

— Herói é o que vai todas as tardes à padaria
mais próxima buscar o pão ainda morno
para testemunhar o mistério da vida.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Flores do Mais - Ana Cristina Cesar

Flores do Mais

Ana Cristina Cesar

devagar escreva
uma primeira letra
escreva
na imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

XVI - Mario Quintana

XVI

Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca,
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Outro Retrato - José Paulo Paes

Outro Retrato

José Paulo Paes

O laço de fita
que prende os cabelos
da moça no retrato
mais parece uma borboleta.

Um ventinho qualquer
e sai voando
rumo a outra vida
além do retrato.

Uma vida onde os maridos
nunca chegam tarde
com um gosto amargo
na boca.

Onde não há cozinhas
pratos por lavar
vigílias, fraldas sujas
coqueluches, sarampos.

Onde os filhos não vão
um dia estudar fora
e acabam se casando
e esquecem de escrever.

Onde não sobram contas
a pagar nem dentes
postiços nem cabelos
brancos nem muito menos rugas.

Um ventinho qualquer...
O laço de fita
prende sempre — coitada! —
os cabelos da moça.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

No Meio do Caminho - Carlos Drummond de Andrade

No Meio do Caminho

Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O amor de agora é o mesmo amor de outrora - Dante Milano

O amor de agora é o mesmo amor de outrora

Dante Milano



O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.
Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.
Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.
E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Um Dia - Eunice Arruda

Um Dia

Eunice Arruda

um dia eu
morrerei
de sol, de
vida acumulada
na convulsão
das ruas

um dia eu
morrerei e
não
podia:

há poemas
escorregando de meus dedos
e um vinho não
provado

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Filosofia - Ascenso Ferreira

Filosofia

Ascenso Ferreira




Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Contra a Esperança - Carlos Nejar


Carlos Nejar


É preciso esperar contra a esperança.
Esperar, amar, criar
contra a esperança
e depois desesperar a esperança
mas esperar, enquanto
um fio de água, um remo,
peixes existem e sobrevivem
no meio dos litígios;
enquanto bater
a máquina de coser
e o dia dali sair
como um colete novo.

É preciso esperar
por um pouco de vento,
um toque de manhãs.
E não se espera muito.
Só um curto-circuito
na lembrança. Os cabelos,
ninhos de andorinhas
e chuvas. A esperança,
cachorro a correr
sobre o campo
e uma pequena lebre
que a noite
em vão esconde.

O universo é um telhado
com sua calha, tão baixo
e as estrelas, enxame
de abelhas na ponta.

É preciso esperar contra a esperança
e ser a mão pousada
no leme de sua lança.

E o peito da esperança
é não chegar;
seu rosto é sempre mais.
É preciso desesperar
a esperança
como um balde no mar.

Um balde a mais
na esperança
e sobre nós.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Soneto da fidelidade - Vinícius de Morais

Soneto da fidelidade


Vinícius de Morais

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
 

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
 

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

poesia, 5 - Romério Rômulo

poesia, 5

Romério Rômulo

eu não faço poesia
e encerro o assunto
é preciso o mundo
a roda do mundo
a mão humana do mundo
a poesia só vale
se trouxer comida mas mãos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Assinalado - Cruz e Sousa

O Assinalado

Cruz e Sousa

Tu és o Louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
faz que tu'alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Rotação - Cassiano Ricardo

Rotação

Cassiano Ricardo

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
            a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
de novo a esperança
            na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
            a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
           na esfera

a esfera
em torno de si mesma
me ensina a espera
a espera me ensina
           a esperança
a esperança me ensina
uma nova espera a nova
espera me ensina
uma nova esperança
          na esfera

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nesse Longo Exercício de Alma - Cecília Meireles

Nesse Longo Exercício de Alma

Cecília Meireles

Ciência, amor, sabedoria,
- tudo jaz muito longe, sempre...
(Imensamente fora do nosso alcance!)
Desmancha-se o átomo,
domina-se a lágrima,
vence-se o abismo:
- cai-se, porém, logo de bruços e de olhos fechados,
e é-se um pequeno segredo
sobre um grande segredo.
Tristes ainda seremos por muito tempo,
embora de uma nobre tristeza,
nós, os que o sol e a lua
todos os dias encontram,
no espelho do silêncio refletidos,
neste longo exercício de alma.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Pré-História - Murilo Mendes

Pré-História

Murilo Mendes

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Cidade Atravessa o Dia - Armando Freitas Filho

A Cidade Atravessa o Dia

Armando Freitas Filho

A cidade atravessa o dia
engatilhada.
Anônimo, mata ao acaso
e escapa, acossado
atirando para o alto
no alvo do sol certeiro.

Antes da pena d'água
o mar aberto se debate
inumerável, perdido
diante de palmeiras selvagens
temperado em heróica
e lírica consonância
com a lagoa inesperada
na boca seca do túnel
com o céu
reagindo no reflexo
tentando subir se salvar
mas resvala na pedra
isolado.

A noite afinal dispara.
Vou no vácuo, no intervalo
harmônico
entre dor e nada
acuado em corpo único
vivendo do próprio fígado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fingimento - Francisco Carvalho

Fingimento

Francisco Carvalho

Não adianta fingir
que o tempo não passou
com os seus pendões vacilantes
de cortejo fúnebre.

Fingir que o rosto não foge
ao sarcasmo dos espelhos.
Que os deuses não zombam
do sorriso trincado dos velhos.

Fingir que ainda restam
vestígios da antiga chama.
— Sob o desenho das rugas
só o silêncio nos ama.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Eu - Paulo Leminski

Eu


Paulo Leminski


eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha

domingo, 1 de janeiro de 2012

Esperança - Mario Quintana

Esperança

Mario Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas buzinas
Todos os tambores
Todos os reco-recos tocarem:
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada – outra vez criança
E em torno dela indagará o povo:
- Como é o teu nome, meninazinha dos olhos verdes?
E ela lhes dirá
( É preciso dizer-lhes tudo de novo )
Ela lhes dirá bem alto, para que não se esqueçam:
- O meu nome é ES – PE – RAN – ÇA …