segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Observando - Eunice Arruda



Observando

Eunice Arruda

sim


as horas de trégua


Quando se afiam
as facas

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Bem no fundo - Paulo Leminski


Bem no fundo

Paulo Leminski

no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Aos Mestres - Helta Nogueira Maurício


Aos Mestres

Helta Nogueira Maurício

Oh Deus!, ampare os mestres
Já que sois divino ser,
São esses que em grande parte
Nos auxiliam a viver.

Parabéns querida mestra
Que nos dá saber e luz,
Desejo que seja sempre
Abenmçoada por Jesus!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tal como antigamente - António Ramos Rosa


Tal como antigamente

António Ramos Rosa
                 
Tal como antigamente tal como agora
essa estrela esse muro
esse lento
esse morto
sorrir
nenhum acaso
nenhuma porta
impossível sair

terça-feira, 31 de julho de 2012

Soneto - Junqueira Freire


Soneto

Junqueira Freire


Arda de raiva contra mim a intriga, 
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável 
A vil calúnia, pérfida inimiga.

Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.

Sei rir-me da vaidade dos humanos; 
Sei desprezar um nome não preciso; 
Sei insultar uns cálculos insanos.

Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Porque - Sophia de Mello Breyner Andresen


Porque

Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

domingo, 29 de julho de 2012

Minha grande ternura - Manuel Bandeira


Minha grande ternura

Manuel Bandeira


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.


Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.


Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.


Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.


Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.